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O trabalho da artista Manuela Navas, abrindo o "Dois e Meio Convida" deste ano <3

maio/23


Manuela Navas reside e trabalha em Caraguatatuba (litoral norte de São Paulo), é artista visual e mãe. Em seu trabalho emprega diversas linguagens: pintura (óleo, acrílica e aquarela), xilogravura e fotografia. Sua pesquisa gira em torno dos questionamentos e histórias que a perpassam, como o fato de ser uma mulher negra, que existe em certo espaço-tempo

Foto: arquivo Manuela Navas

. No projeto Dois e Meio Convida chamamos artistas de diversos estilos para imprimirem uma de suas artes em processo Fine Art. (clique aqui para conhecer o projeto)



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Dois e Meio Quando descobriu que gostaria de trabalhar na área de artes? Manuela O trabalhar com pintura veio muito por acaso, pois nunca imaginei que se pudesse viver de arte para além da docência.

Em certo momento, lá por 2016 eu comecei a ser procurada pra vender os desenhos que eu fazia pra mim e foi assim por alguns anos, muito esporadicamente eu vendia algo que eu já tinha para amigos e conhecidos, até que no início da Pandemia eu fui obrigada a sair do mercado de trabalho, pra cuidar da minha filha e me vi diante a ideia de fazer virar meu trabalho com a pintura, que até então eu não via tanto como um trabalho, talvez como um hobby. Enfim, a pandemia me trouxe a evasão do mercado formal de trabalho, mas por outro lado me deu a chance de me dedicar ao que eu amo.

Hoje vejo que desde criança eu estive com os pés, mãos e corpo inteiro nas artes de alguma forma, mas nunca teve um momento em que pensei que eu deveria trabalhar com isso. Acho que algumas coisas são colocadas em nosso caminho e a escolha é fazer ou não.


Dois e Meio E o que mais te satisfaz nesta profissão? Manuela O processo. A investigação desde o momento que leio ou escuto algo e penso em cenas, vejo imagens e penso em pinta-las até o momento em que dou a ultima pincelada.

Gosto da ideia de tratar todo trabalho meu como um estudo sobre alguma ideia e sobre a própria técnica que eu esteja desenvolvendo, pra tirar certa carga do resultado.

Em resumo, o processo é o que mais me deixa feliz no que faço. O resultado é sempre bom, mas o percurso é a parte reflexiva, às vezes dolorosa, mas de certa forma sempre bonita, assim como nossa vida.


Dois e Meio Quais as principais dificuldades que encontra na sua vivência enquanto artista? Manuela A insegurança de viver num mundo capitalista. Quanto a vivência na arte, sempre tem algumas questões sobre o que produzo e tudo mais, mas o que pega mesmo é viver de arte para pagar as contas e afim. É um ato de coragem, eu vejo, isso de capitalizar o sonho.


Arte Manuela Navas


Dois e Meio O que mais tem motivado sua criação em artes? Manuela Não sei, acho que não há reais motivos no fim, a minha produção gira em torno do que eu preciso colocar pra fora.

Eu nunca fui muito boa com as palavras e outras formas de comunicar, apesar de sempre ler muito, então eu vi nas artes visuais uma forma de comunicar que eu conseguia de alguma forma transpor o que eu queria. Depois de dizer tudo isso, acho que o motivo no fim é precisar colocar pra fora algumas ideias que talvez eu não devesse manter só pra mim.


Dois e Meio Como é a sua rotina de trabalho? Manuela Eu montei um horário tipo CLT pra mim (rs) pra não enrolar, de segunda a sábado, das 8h às 17h. No fim eu trabalho todos os dias, mas normalmente não vejo tanto como trabalho, pois é uma rotina normalmente tranquila.

Costumo ler bastante entre as pinturas, ouvir muita música (uma das minhas grandes paixões), enfim, acredito que a rotina de ateliê seja meio entediante pra quem vê de fora, mas a rotina em si é minha forma de meditação.


Dois e Meio Como vê a importância da cultura na cidade em que você atua? Manuela Vivo em uma cidade cheia de artesãos e artistas de todas as áreas. E por ser uma cidade relativamente pequena, conta com um suporte para desde cedo fazermos algo com nosso tempo. Para além disso, nas redondezas há povos nativos e quilombolas, além dos próprios caiçaras, então a cultura, que como vejo, é esse encontro de histórias, se faz o ponto chave pra minha produção. No entanto, não é realmente nada usual viver de arte aqui, mas isso é coisa pra outra hora.


Arte Manuela Navas


Dois e Meio Lembra do primeiro trabalho de arte/artista que te marcou na infância? Manuela Acho que as pinturas que minha mãe fazia foram meus maiores contatos com a arte na infância, porque apesar de eu gostar das aulas de arte da escola, nada nunca me prendeu, porque a forma que o fazer artístico, a arte em si é passada para as crianças nas escolas públicas era sempre meio um decoreba de escolas, tudo muito distante de qualquer coisa que me cercava na vida real. Acho que minha mãe sempre foi e será minha maior referência de artista e artesã.


Dois e Meio E hoje em dia, quem tem te marcado? Manuela A arte afro indígena brasileira, o trabalho dos meus pares me enche de orgulho e de inspiração. A arte do eixo norte-nordeste do Brasil, com todas as diferenças da Sudestina que estou tão acostumada, me deixa sempre de queixo caído, principalmente no que diz respeito a forma que trabalham a temática LGBTQI+ é sempre renovador. O que me marca hoje é essa geração nova de artista que tá aí, apesar de todo o corre pra produzir num país tão desigual como o Brasil, fazendo e comunicando o que propõe. A arte brasileira é o que me inspira. Mas para além, tenho buscado novos horizontes, num pan africanismo artístico e voltado meu olhar pra arte africana, com sua infinita pluralidade.


Dois e Meio Como foi sua experiência com o ensino de arte na escola? Manuela Foi muito rasa. Me formei no ensino público básico em 2013, então era bem diferente do que é hoje. Então não vi nada de arte indígena ou afro-brasileira, que dirá africana. Só as vanguardas europeias. Deixo aqui uma enorme crítica pra forma que era passado o fazer artístico para a juventude naquela época. O que espero é que progressos no ensino tenham sido feitos.


Dois e Meio Na sua opinião, qual a importância da formação em artes no ensino infantil? Manuela Eu não saberia dimensionar a importância, e hoje como mãe, vejo como a arte transforma e dá diversas perspectivas para criança desde a primeira infância.


Arte Manuela Navas | Fotografia no ateliê por Mike Chaney


Dois e Meio Quais trabalhos mais gostou de fazer? Manuela Gosto muito da empena que realizei em São Paulo, pois foi um sonho realizado e um desafio estar nas alturas quando se tem tanto medo de altura, mas consegui.

Gosto muito de uma pintura chamada "bese saka/ creative force of our people", em que retrato varios homens negros, em torno de uma bicicleta quebrada, todos juntos consertando ela. Gosto de pensar isso do "jeitinho brasileiro", pelo menos a parte que cabe a criatividade de saber viver em meio a tanta adversidade e ainda assim criar coisas lindas, recriar outras de formas engenhosas. Essa pintura é uma das minhas favoritas, mas tem outras.


Dois e Meio Foi a alguma exposição memorável que queira compartilhar? Manuela Estive na exposição de um artista carioca chamado Miguel Afa, no Bacorejo (galeria de arte localizada no centro do Rio de Janeiro), em que ele trabalhou entre tantas sutilezas, a paternidade, e tenho que falar que chorei na exposição, pensando em como essa construção masculina do homem pai, homem filho é muito cruel. O Afa com maestria, tanto de técnica, como em simbologia, pôde transmitir a mim, uma mulher, que apesar de massacrada pelo machismo, não entendo a sutileza do que os meninos passam por conta dos padrões machistas que são colocados a ele. Foi uma exposição que me tocou muito, pois sou filha, sou irmã de homens e pude ver muito deles naquelas pinturas, além de conseguir refletir mais sobre isso tudo.


Dois e Meio Você conhece o processo de impressão Fine Art? Já tinha impresso uma arte sua nesse ou em outro tipo de impressão? Manuela Conheço, mas nunca fiz. Aliás vocês foram a única indicação de todos os meus amigos artistas pra esse tipo de trabalho.


Arte que Manuela Navas enviou para o Dois e Meio Convida Foto: Ateliê Dois e Meio


Dois e Meio Você pode falar um pouco sobre a arte que enviou para o projeto Dois e Meio Convida? Manuela A pintura que fiz para o projeto é parte de um estudo sobre sexualidade, feminino e um estudo que venho fazendo há muito tempo, chamado "estudos sobre o amor". E nessa pintura em aquarela, penso a fragilidade que descortinamos com aqueles que amamos. Leio essa pintura tanto como um desnudar para si própria, num exercício de trabalho o amor próprio, abraçando até minhas piores partes, quanto também pode ser visto pela ótica do amor romântico. Pensei muito em uma cena do filme "love" do Gaspar Nóe, em que o casal se mostra frágil e até sonhador quanto a ideia do "amor eterno", enquanto estão abraçados numa banheira. Enfim, estudos sobre o amor... O amor é uma das minhas investigações da qual eu acho mais bonita.


Impressão da arte de Manuela Navas na Dois e Meio Foto: Ateliê Dois e Meio


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