nov/21
Janaína Carvalho, aka“Mentira”, é artista visual, fotógrafa, nascida e crescida no bairro de São Mateus, zona leste de São Paulo. Um tanto curiosa, a artista tem uma enorme vontade de mostrar os detalhes que a atravessam. Gosta do universo urbano, suas peculiaridades, invisibilidades e distopias. O Tempo próprio desse cotidiano é um dos seus maiores impulsos e fazem parte das suas narrativas visuais. Janaína é a décima segunda artista a participar do Projeto Dois e Meio Convida. (clique aqui para conhecer o projeto)
Foto: Egberto Alves
Dois e Meio O que mais tem motivado sua criação em arte? E o que mais tem motivado seu olhar enquanto observadora?
Janaína O cotidiano na maior parte das vezes é o meu ponto de partida, é o lugar onde eu vejo possibilidades de trocas pelas possibilidades que o próprio cotidiano contem. Sobre minhas principais motivações de estudos e narrativas acho importante citar também a cidade e o Tempo, (sim, em maiúsculo, como um agente ativo que existe e dialoga comigo, com o que faço e com o mundo). O Tempo, o cotidiano e a cidade que me rodeia são linhas que me atravessam sempre na vida e ficam ainda mais presentes no momento que produzo.
Dois e Meio Qual a sua relação com a fotografia e como isso de desdobra para as outras linguagens artísticas que você usa? Janaína A fotografia é um dos meios que utilizo para me comunicar e para o meu fazer artístico, é uma ferramenta e um meio importante na minha vida, é uma linguagem e técnica que realmente gosto muito, me sinto a vontade e me tornou pertencente a muitos lugares. Meu olhar fotográfico influencia em tudo que faço. A fotografia me leva a lugares, me proporciona conhecer pessoas, ouvir historias, ter sensações e experiências, ver o mundo de diversas formas, inclusive mostrar ao mundo uma das formas que eu vejo ele.
Me utilizo de outras técnicas para o meu fazer como artista, o que colo e pinto na rua por exemplo também vem em dialogo com o que faço na fotografia; colo minhas próprias imagens é uma das minhas maneiras de contar algo. Ter um letramento acadêmico em fotografia aliado ao aprender através da vivencia de fotografar e estar na rua, foram essenciais para o meu entendimento pessoal de ser possível transbordar a própria técnica fotográfica tradicional e utilizar da técnica e linguagem à maneira que à minha fosse melhor, a que coubesse melhor naquele momento.
Foto: Janaína Carvalho
Dois e Meio Lembra do primeiro trabalho de arte/artista que te marcou na infância? Janaína Nossa que difícil essa pergunta... Vou falar um que tem uma historia um tanto inusitada , mas que com certeza não foi o primeiro. O Filme: Meu amigo Totoro dos Studio Ghibil dirigido e roteirizado pelo Miyazaki, foi um filme que me marcou muito, acho que por ter assistido dezenas de vezes (sabe aquela quase obsessão infantil de quando uma criança gosta de algo, pois bem é esse aí mesmo! hahaha) minha tia havia mandando de presente do Japão uma fita VHS desse filme quando eu tinha cerca de 4 anos de idade, de fato assistimos muitas vezes aqui em casa a esse desenho, mas em algum momento essa fita emperrou no Vídeo Cassete então realmente só era possível assistir esse filme. Anos depois eu já tinha acredito eu uns 16 anos, em uma conversa na mesa do almoço de domingo na casa da minha avó, minha mãe falou que a fita VHS que tínhamos era em japonês, eu insisti com ela que não, até a minha tia confirmar, falando que era sim em japonês todo o filme, porém na minha cabeça depois de ter assistido dezenas de vezes, eu jurava que tinha assistido em português.
Resumindo, fui assistir finalmente ao filme em português mas os diálogos era parecidos com o que eu lembrava, ou o que eu tinha criado na minha cabeça desde criança. Até hoje sou muito encantada pelos filmes do Studio Ghibil e do Miyazaki não só pelos diálogos que agora faço questão que seja em português, mas pelos cenários maravilhosos criados, as trilhas cuidadosamente feitas, as personagens fortes cheias de personalidade.
O filme “Meu amigo Totoro” tem um espaço especial.
Imagem: Filme Meu Amigo Totoro, 1988, Studio Ghlibli
Dois e Meio Como é sua rotina de trabalho? Janaína Eu não tenho uma rotina muito regrada, por conta das funções que exerço, mas uma das coisas que faço todos os dias é usar pelo menos 2 horas do meu dia para ter contato com algo novo, um texto, um filme, um disco novo, um livro. Sinto muita falta de ir a exposições, shows, cinema, teatro, encontrar meus amigos para fazermos nada ou para fazermos qualquer coisa, sair para pintar com tranquilidade sanitária, que eram atividades que fazia com frequência e pretendo voltar a fazer, quando for possível.
Geralmente na volta desses “roles” escrevo as ideias e pensamentos que eles me geraram, muitos dos meus projetos pessoais e series surgiram assim, nessa volta pra casa. Como disse minha base é no cotidiano, então os “temas” podem vir externamente propostos por situações e pessoas, mas também pode vir através de uma observação que tive e por algo que tenha me afetado.
Foto: Janaína Carvalho
Foto: Janaína Carvalho
Dois e Meio Foi a alguma exposição memorável que queira compartilhar? Janaína Nossa só pergunta fácil para responder aqui hein...rs Acho que todas que fui até hoje voltei para casa pensando. Todas me afetaram. As vezes a diagramação do catálogo entrega na exposição me encanta, outras vezes pode ser porque a presença do artista ou ainda uma obra que não saia do meu pensamento por algum motivo.
Dois e Meio Sabemos que tem experiência com impressão. :) Pode nos contar um pouco a respeito? Janaína Durante a faculdade eu estagiei no laboratório multi-mídia que era frequentado pelos alunos, onde havia impressoras fine art e scanner de alta resolução para negativos fotográficos e posteriormente trabalhei na empresa terceirizada que começou a fazer esse serviço para os alunos. Acredito que a minha curiosidade sobre imagens vistas em suportes físicos, me impulsionaram nesse período e a vivência que tive lá reforçou e me deu a oportunidade de estreitar essa relação que tenho com impressos e impressões que se reflete nos meus trabalhos, narrativas e olhares até hoje.
Sou bem curiosa com esse assunto, então durante o tempo que estagiei e trabalhei tendo contato direto com impressos tive a oportunidade de testar algumas coisas e isso me ajudava muito no meu trabalho como prestadora de serviço e no meu próprio repertório de saberes, esse contato, me deu uma relação de fato com o impresso e ter imagens em suportes físicos, me ensinou juntamente com grandes professores que tive na faculdade que testar o que o papel e a impressões poderiam me oferecer mais uma camada nas minhas narrativas.
Dois e Meio Você pode falar um pouco sobre a arte que desenvolveu para o projeto Dois e Meio Covida? Janaína A fotografia feita por mim que está nesta edição do DOIS E MEIO CONVIDA tem o título de “Outono” ela integra as experimentações, testes e fotomontagens uma serie chamada “Cotidiano Montado” que comecei em 2011 e continua em aberto em produção.
Arte de Janaína Carvalho imagem: Ateliê Dois e Meio
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Conheça e acompanhe o trabalho de Janaína Carvalho em @janamentira @cotidianomontado O print acima está disponível para venda <3 Apóie artistas independentes!
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